03 December 2008

Tanta vida explodida

Eu, que suporto com bravura as dores agudas, nada sei sobre os mistérios do claustro.

Nesses dias de ócio, acabei por associar, com nostalgia, fatos antigos e dispersos, que talvez me sejam peculiares. No primeiro dia de jardim de infância, com 3 anos, corri em disparada em direção à piscina da escola e pulei na água feito mártir. Estava de roupa e bati com o nariz (ou a boca) na borda. Criei um tumulto no lugar e fui entregue à minha mãe com algum sangramento na face. Apesar dos efeitos colaterais, terminei esse dia com saldo positivo, achando que a escola era pura aventura.

Essa cena se repetiu inúmeras vezes, em diversos lugares: de uniforme, de pijama, de vestido, correndo loucamente para pular n'água. Em tempos imemoriais, essa era a forma de me atirar na vida, de torná-la toda minha num instante, de compensar a inquietação. Sem planejamento ou autorização, eu me atirava no sonho mais escorregadio e irracional: a sensação vital da felicidade.

Felicidade que não está embutida no acúmulo de fatos corridos, mas que toma nossos corações e mentes numa explosão particular. Explodir é preciso. A primeira lei do universo, desde o Big Ben.

O que me leva a recorrer a FG:

Todos te buscam, facho
de vida, escuro e claro,
que é mais que a água na grama
que o banho no mar, que o beijo
na boca, mais
que a paixão na cama.
Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns
te acham e te perdem.
Outros te acham e não te reconhecem.
e há os que se perdem por te achar,
ó desatino
ó verdade, ó fome
de vida!