21 December 2010

Ou assim

"porque foi tão fácil conseguir
e agora eu me pergunto "e daí?"
eu tenho uma porção
de coisas grandes prá conquistar
e eu não posso ficar aí parado"

20 December 2010

Contagem regressiva

"Num lugar qualquer onde sempre é verão e as emoções limpas como as areias que pisamos". E assim termina 2010!


03 December 2010

Preocupação

Ando sempre muito preocupada com a precisão das palavras.

03 November 2010

Assim é

Uma árvore geme se a cortam
Um cão gane se lhe batem
Um homem cresce se o ofendem

O Evangelho segundo Jesus Cristo
(José Saramago)

21 June 2010

Grandes e graves

Trecho de On the Road, quando Sal e Dean chegam ao México pela primeira vez. No geral, não é um livro que me toca muito. Mas essa parte, sim, pela familiaridade com o que já vi e senti nas terras abaixo do Rio Grande. E por achar que o sentido de viajar é buscar lugares onde finalmente aprenderíamos algo sobre o mundo.

"(...) dirigir através do mundo rumo a lugares onde nós finalmente aprenderíamos algo entre os lavradores indígenas desse mundo, a origem, a força essencial da humanidade básica, primitiva e chorosa que se estende como um cinturão ao redor da barriga equatorial do planeta, desde a Malásia (a longa unha da China) até o grande subcontinente indiano, passando pela Arábia e pelo Marrocos, cruzando os próprios desertos e selvas do México, sobre as ondas da Polinésia para chegar ao Sião místico da Túnica Amarela, sempre ao redor, ao redor, de modo que se pode ouvir a mesma lamúria nostálgica desde as muralhas arruinadas de Cádiz, na Espanha, até vinte mil quilômetros mais além, nas profundezas de Benares, a Capital do Mundo. Essas pessoas eram indubtavelmente índias e não tinham absolutamente nada a ver com os tais Pedros e Panchos da tola tradição civilizada norte-americana. Tinham as maçãs do rosto salientes, olhos oblíquos, gestos suaves; não eram bobos, não eram palhaços; eram grandes e graves indígenas, a fonte básica da humanidade, os pais dela".

14 June 2010

O que fica

Não há tempo para tanta gente e muita coisa. Nos reduzimos, nos concentramos, nos economizamos. Vai ficando o essencial. O que não pode ser adiado ou substituído. O que é vital agora.

20 April 2010

O barco e o porto

O barco só está seguro no porto. Mas ele não foi feito para isso. Navegar é preciso, sempre.

06 April 2010

E agora a terça chuvosa

Acordei às 6h30 para nadar na piscina do clube. Chovia na minha janela. Voltei a dormir. Às 7h30, a família reunida na sala assistindo ao noticiário sobre o temporal. Dormi mais um pouco. Depois comecei lendo os emails, passei pelos jornais, olhei os sites, avancei no livro da cabeceira. Por fim, me veio Clarice:

"O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão".

01 March 2010

Leitura de segunda chuvosa

"Para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações".

(On the road, Jack Kerouac)

24 February 2010

Falência múltipla do cérebro

As conexões neuroquímicas do meu cérebro demonstram o mesmo vigor do atletista predestinado a ganhar a corrida. Uma explosão da seta em direção ao alvo. Às vezes, vejo tudo tão claro à minha frente. Vejo com velocidade, se isso é possível. De repente, a profundidade do campo se retrai, consigo absorver todos os objetos - as pessoas - os gestos - as possibilidades - as consequências diante de mim. Consigo entender o enigma num segundo.

Mas isso de pouco vale para alguém que, quando respira mais profundamente, não pode evitar de sofrer um pouco sabe-se lá do quê. Um pouco do passado, do irremediável, do inexplicável, do incompreensível.

16 February 2010

Inventário do irremediável

Com nada, absolutamente, a dizer, faço minhas as palavras de Caio F.:

"... depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro".

E esse essencial e verdadeiro já não precisa ser dito. Tempestades e naufrágios também não.

15 January 2010

Uma nota amarga

"Há poucos sinais a indicar que algo como um novo espírito internacionalista esteja de fato surgindo. As eclosões de solidariedade internacional são notoriamente carnavalescas, esporádicas e curtas. A mídia cunhou a expressão 'fadiga de ajuda', que diz tudo, para denotar a persistente tendência da solidariedade internacional a se esgotar e evaporar em questão de dias e não de semanas".

Página 194 do livro de Zygmunt Bauman sobre a busca pela Política (com P maiúsculo). Estava revisando o livro e relendo os sublinhados, enquanto a cabeça ainda vagava pelas cenas, pelos relatos e pelas promessas em relação ao Haiti.

Grande parte do noticiário televisivo (assisti mais do que li, confesso) narrava que "o país foi sempre alvo de catástrofes políticas e naturais".

Aparentemente, nada de errado. Se não fosse pelo fato de as catástrofes políticas assumirem um aspecto inevitável como terremotos e furacões. É como se a miséria haitiana fosse apenas uma espécie de falta de sorte (assim como estar localizado no ponto de encontro entre placas tectônicas).