A história está no livro de entrevistas feitas pela Clarice Lispector para as revistas 'Fatos e Fotos: Gente' e 'Manchete'. Clarice fazia essas entrevistas para se sustentar. Ou como contou Sérgio Rodrigues, 'defender uns trocados'. Não tenho o livro e fiquei sabendo do caso por uma coluna do jornalista.
Foi assim: Clarice estava no Antonio's entrevistando José Carlos Oliveira, então cronista do JB. No lendário reduto da boemia, o clima era de certa hostilidade. Carlos então disse que 'fazer sucesso é chegar ao mais baixo do fracasso, é sem querer cortar a vida em dois e ver o sangue escorrer'. Era uma mensagem direta a Clarice e suas entrevistas que ficaram famosas nas revistras ultra-comerciais (como se o JB também não fosse).
Carlos: Falamos linguagem diversa, é verdade. Eu prefiro ser feliz a cortar a vida em dois.
Clarice: E eu prefiro tudo, entendeu? Não quero perder nada, não quero sequer a escolha.
Carlos: Você prefere inclusive ser uma grande escritora. Mas eu renunciei há muito tempo essa vaidade. Quero comer, beber, fazer amor e morrer. Não me considero responsável pela literatura.
Clarice: Nem eu, meu caro. E estou vendo a hora em que começaremos, dentro de toda a amizade, a brigar. Também posso lhe dizer que se viver é beber no Antônio's, isso é pouco para mim. Quero mais porque minha sede é maior que a sua.
('Clarice Lispector - Entrevistas', editora Rocco, 232 páginas, só custa R$ 29,00.)
08 June 2007
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