O episódio de hoje foi inspirado na série de filmes "Os nerds também amam", que, diga-se de passagem, sempre adorei assistir na sessão da tarde.
A poucos meses da formatura, do momento em que enfim terei alta do hospício, me vejo às voltas novamente com Foucault, Bakthin, Althusser, Pêcheux. Não acho de todo o mal e até sinto aquele prazer solitário típico dos nerds. Mas poderia apresentar qualquer coisa à banca que avaliará minha monografia. Rolos de papel higiênico e reprovações acadêmicas são artigos raros na ECO. Foi quando, então, deu-se o retorno da minha nerdice adormecida nos quatro últimos anos . Talvez seja o terceiro fim de semana seguido que passo em casa, refletindo sobre lingüística crítica, aparelhos ideológicos, formações discursivas e afins. Um complexo de culpa tardio ou simplesmente o sintoma da impotência de não ter mudado nada na estrutura da Escola ou de ter mudado menos do que poderia em mim mesma.
Já tive planos mirabolantes que envolvem golpes de poder na diretoria, expulsão dos professores medíocres, reavaliação dos conteúdos acadêmicos e palavras de ordem revolucionária (sic). Não fiz nada disso e ainda me adaptei à picaretice geral da casa. É bem verdade que a ECO jogou luzes em uns autores aqui, uns cineastas ali e me derrubou certas barreiras do pensamento para que eu pudesse ter outros menos preconceituosos. O jogo de luzes me estimulou a direções tão distintas que, em partes, explica-se a minha atual consistência difusa. Uma característica predominante na maior parte da classe jornalística.
Na sexta-feira retrasada, nas incursões jornalísticas pelos confins cariocas, fui parar em um sebo em Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio. Por uma bagatela, saí de lá com "Idade da Razão", do Sartre, e "História da sexualidade", do Foucault. Comecei por Sartre. E, depois de um vôo da galinha, parei. Os primeiros capítulos eram naturalmente instigantes. Mas tanto Sartre, como os ensinamentos maquiavélicos ao jovem príncipe (minhas leituras simultâneas da última semana), ficaram e ficarão forçosamente separados de mim pelo espaço entre a cama e a cômoda.
Lembro do Cazuza, perto da morte, dizendo "As pessoas esquecem o que precisam fazer. Eu não posso me dar a esse luxo. Faço tudo caber nos meus próximos poucos dias. Todas as idéias que eu teria (...). Eu fiquei aqui, tentando agarrar o que eu puder. (...) Sinto que estou reunindo as minhas coisinhas, me concentrando. Se eu pudesse guardava tudo numa garrafa e bebia de uma vez. Penso no que vai ficar de mim. Eu só sei insitir".
Relendo os dois últimos parágrafos, percebo que a crítica insistente de amigos pacientes em relação aos meus textos é estimulada por esta aparente falta de nexo causal. E, também com insistência, rebato que não quero ser didática, "isso empobrece o texto, oras". Tentarei ser, só desta vez. A difusão mental proporcionada por uma formação esquizofrênica, explicitadas nessa vontade sem igual de "querer tudo ao mesmo tempo agora", de Maquiavel a Sartre, de Bergman a Almodóvar, de Chico Buarque a Jonnhy Cash, de Portinari a Roy Lichenstein; e a agenda social permanente, como se uma página de fim de semana, arrancada na marra, decretasse o fim do mundo... Isso tudo, talvez, me faça esquecer do que preciso fazer, como disse Cazuza. Se eu pudesse, realmente colocava tudo numa garrafa e bebia de uma vez só. E, de alguma forma, é necessário decretar, temporariamente, a morte de certas variáveis difusas, para que se possa reunir "as coisinhas" e conferir se, juntas, provam que o todo realmente é maior do que as partes.
30 September 2006
11 September 2006
O pombinho de Copacabana
Um pombinho se esconde debaixo do banco.
Foto de Diego González (o mais novo linkado neste blog)
Do mestre
"A gente tem que olhar para o céu e sentir que é pequenino. Quem não sente isso não é modesto para poder fazer nada de importante. E a gente tem que ser realista. Nada é importante. O importante é relativo, são os momentos de prazer, gostar de alguma coisa, ficar abraço com mulheres. A natureza criou a gente para isso. A gente pode acreditar nas pessoas, achar que todo mundo tem um lado bom. O Lenin dizia que ter 10% de qualidade já é o bastante. É preciso ver a vida com mais simplicidade. Estamos aqui de passagem. Cada um escreve sua história e o tempo apaga. Aí acabou."
Do mestre Oscar Niemeyer, que, quase centenário, explica o que é impossível de se aceitar no texto anterior a este.
Do mestre Oscar Niemeyer, que, quase centenário, explica o que é impossível de se aceitar no texto anterior a este.
10 September 2006
Deus e o Diabo aos 25
- Estou em crise. Preciso fazer 'algo'.
- É? Glauber filmou "Deus e o Diabo na Terra do Sol" aos 25 anos.
(Horas mais tarde...)
- Pensei numa coisa muito séria.
(O interlocutor ignora e comenta outro assunto)
- Pensei numa parada importante pra caralho. Tô tentando falar. DE NOVO.
- Vá lá, diga.
- Sua frase "O Glauber fez Deus e o Diabo aos 25" me fez pensar. Porra, algum de nós por acaso TENTOU fazer um filme? Algum de nós tentou fazer alguma coisa? (Animado) Vamos nos movimentar!
- Eu não sei fazer um filme. (Pensativa) Quero escrever um livro, um conto, uma peça. (Ainda pensativa) Aí... Acabei de saber pelo Fantástico que o Isaac Newton descobriu a gravidade aos 24 anos. (Desconfiada) Porra. Tá ficando sério pra gente.
- Isso que eu estou falando. (Sentindo-se compreendido) A gente quer, mas não tenta.
- Daqui a pouco Deus fez o mundo em sete dias, aos 21 anos... E aí fudeu pro meu lado. Aliás, Nelson Rodrigues já escrevia contos pornográficos na quinta-série.
- O que faz dele um pervertido precoce... (Passa por cima do comentário do interlocutor) Isso me aflige demais cara. Você não faz idéia.
- Calma aí. Um segundo.
- ...
- Estou transformando nossa conversa em roteiro.
- Hahahahahahaha.
- É? Glauber filmou "Deus e o Diabo na Terra do Sol" aos 25 anos.
(Horas mais tarde...)
- Pensei numa coisa muito séria.
(O interlocutor ignora e comenta outro assunto)
- Pensei numa parada importante pra caralho. Tô tentando falar. DE NOVO.
- Vá lá, diga.
- Sua frase "O Glauber fez Deus e o Diabo aos 25" me fez pensar. Porra, algum de nós por acaso TENTOU fazer um filme? Algum de nós tentou fazer alguma coisa? (Animado) Vamos nos movimentar!
- Eu não sei fazer um filme. (Pensativa) Quero escrever um livro, um conto, uma peça. (Ainda pensativa) Aí... Acabei de saber pelo Fantástico que o Isaac Newton descobriu a gravidade aos 24 anos. (Desconfiada) Porra. Tá ficando sério pra gente.
- Isso que eu estou falando. (Sentindo-se compreendido) A gente quer, mas não tenta.
- Daqui a pouco Deus fez o mundo em sete dias, aos 21 anos... E aí fudeu pro meu lado. Aliás, Nelson Rodrigues já escrevia contos pornográficos na quinta-série.
- O que faz dele um pervertido precoce... (Passa por cima do comentário do interlocutor) Isso me aflige demais cara. Você não faz idéia.
- Calma aí. Um segundo.
- ...
- Estou transformando nossa conversa em roteiro.
- Hahahahahahaha.
07 September 2006
Rebeldes a favor ou cães de guarda?
"A feliz expressão do Jaguar - rebeldes a favor - dá conta perfeitamente do fenômeno. O estilo de fala, supostamente indignado, um certo tom radical na entonação - como quando se pede o fim da maioridade penal -, tudo para dar a impressão de que quem fala ou escreve está sintonizado com o "basta!", com o sentimento de que tanta coisa precisa mudar e que podemos contar com ele.
São tantos, entre ex-cineastas fracassados, ex-ficcionistas abortados, escritores decadentes, ex-comunistas preocupados a vida inteira em renegar seu passado, filhos de publicitários, ex-trostkistas envergonhados, todos cabendo dentro da definição do Jaguar. Ocupam espaços generosos no principal beneficiário miditático da ditadura militar, para acusar os que querem mínimas formas de contrapartida para as benesses que recebem do Estado, de manter "o velho sonho totalitário de acabar com a Rede Globo" (sic, num arroubo não sei se de prosa, de sexo, de poesia, ou de amor mesmo aos patrões na mão de quem come). Estão abrilhantando com suas bobagens supostamente cultas as páginas da revista porta-voz do bushismo no Brasil.
Nada lhes dá mais satisfação do que concordar com os patrões. Então o que melhor do que atacar a esquerda? Cuba, a Venezuela, o MST, o PT - ou o que consideram que exista de perigoso para a política econômica (que adoram) no PT. Concordando com os patrões, falando em tom indignado, como se o MST tivesse introduzido a violência no campo brasileiro e não fosse uma vítima privilegiada dela. Como se Cuba e Venezuela tivessem inventado o imperialismo e a luta de classes. Como se a esquerda fosse a responsável pelas mazelas do Brasil.
Albert Camus os chamou de "cães de guarda", zelosos protetores dos interesses das elites que lhes pagam os salários e lhes concedem prazerosamente os espaços especiais na mídia. Assim, não precisam eles mesmos, os grandes senhores que se julgam donos do Brasil, vir defender seus interesses. Dispõem de ex-escritores, ex-cineastas, ex-comunistas, para assumir esse papel, concedendo-lhes o efêmero sucesso de uns minutinhos na televisão, uns centímetros dominicais nos seus jornais. Contentam-se com pouco esses servidores dos que produziram e reproduzem o Brasil da ditadura da mídia. São seus quinze minutos de glória e se valem dela para agradecer a seus senhores.
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Cada um escolhe suas causas e assume os seus valores. Por isso somos o que somos e nos orgulhamos ou nos envergonhamos de ser o que somos".
Emir Sader
São tantos, entre ex-cineastas fracassados, ex-ficcionistas abortados, escritores decadentes, ex-comunistas preocupados a vida inteira em renegar seu passado, filhos de publicitários, ex-trostkistas envergonhados, todos cabendo dentro da definição do Jaguar. Ocupam espaços generosos no principal beneficiário miditático da ditadura militar, para acusar os que querem mínimas formas de contrapartida para as benesses que recebem do Estado, de manter "o velho sonho totalitário de acabar com a Rede Globo" (sic, num arroubo não sei se de prosa, de sexo, de poesia, ou de amor mesmo aos patrões na mão de quem come). Estão abrilhantando com suas bobagens supostamente cultas as páginas da revista porta-voz do bushismo no Brasil.
Nada lhes dá mais satisfação do que concordar com os patrões. Então o que melhor do que atacar a esquerda? Cuba, a Venezuela, o MST, o PT - ou o que consideram que exista de perigoso para a política econômica (que adoram) no PT. Concordando com os patrões, falando em tom indignado, como se o MST tivesse introduzido a violência no campo brasileiro e não fosse uma vítima privilegiada dela. Como se Cuba e Venezuela tivessem inventado o imperialismo e a luta de classes. Como se a esquerda fosse a responsável pelas mazelas do Brasil.
Albert Camus os chamou de "cães de guarda", zelosos protetores dos interesses das elites que lhes pagam os salários e lhes concedem prazerosamente os espaços especiais na mídia. Assim, não precisam eles mesmos, os grandes senhores que se julgam donos do Brasil, vir defender seus interesses. Dispõem de ex-escritores, ex-cineastas, ex-comunistas, para assumir esse papel, concedendo-lhes o efêmero sucesso de uns minutinhos na televisão, uns centímetros dominicais nos seus jornais. Contentam-se com pouco esses servidores dos que produziram e reproduzem o Brasil da ditadura da mídia. São seus quinze minutos de glória e se valem dela para agradecer a seus senhores.
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Cada um escolhe suas causas e assume os seus valores. Por isso somos o que somos e nos orgulhamos ou nos envergonhamos de ser o que somos".
Emir Sader
02 September 2006
Notícias do Nordeste
E as notícias que vêm do Nordeste:
Cícero Adriano diz:
agora quinta-feira a polícia tocou fogo num acampamento nosso até o cachorro morreu queimado.
Carla diz:
e foram pra onde agora?
Cícero Adriano diz:
voltaram para o mesmo local.
Cicero Adriano diz:
é muita coragem q esse povo tem, pode acreditar.
...
Sentei para escrever sobre outra coisa. O MSN abriu sozinho e lá surgiu Cícero Adriano, que conheci na beira de uma estrada qualquer na Venezuela. Eu, sozinha com minhas feições de venezuelana (colombiana, equatoriana ou peruana), de um lado. Do outro, uma pessoa com jaqueta camuflada e bolsa atravessada me dizendo: “Que fome da porra! Quer di-vi-dir al-go pa-ra co-mer?”. Espaçou as sílabas para que meu espanhol entendesse seu português carregado de Vidas Secas. “Só vou beber alguma coisa, estou sem fome”, disse, numa resposta auto-explicativa sobre minha origem. Mas acabei ficando por perto, enquanto ele comia uma hallaca. Sempre confiei em desconhecidos.
Nos dois dias em que dividimos ônibus, comida, bebida, cigarros e histórias descobri que Adriano era agrônomo da Via Campesina em Alagoas. Como eu, voltava do Fórum Social Mundial de Caracas. Foi parar na Venezuela para checar em que pé estava a reforma agrária, prevista na Lei de Terras, de 2001. Falamos muitas horas sobre a terra, sobre a luta no campo. E talvez porque estivéssemos trilhando o caminho de volta, as memórias que retornam ao início foram freqüentes. Então, lembro de Adriano dizendo sobre seu pai lavrador, sobre o político de sua cidade que o mandou estudar em João Pessoa. Da vida de mordomia proporcionada pelo político: apartamento à beira-mar, faculdade federal, dinheiro, carro. “Estava deslumbrado, mas parei e lembrei de onde vim”. Largou tudo que veio fácil, largou o padrinho político. O pai não gostou. E ele arranjou outro modo de sobreviver até acabar a faculdade.
Hoje, Adriano é um híbrido de homem da terra e de doutor da capital. Me contou das ocupações com completa noção do contraste entre o seu papel (da turma do “deixa disso”) e o dos camponeses, que botam abaixo em um movimento só de foice as cercas de arame. Certa vez, ele, temeroso com as conseqüências, tentou impedir: “Fulano, não faça isso, vai ser bala depois”. O homem o agarrou e cuspiu fogo pelos olhos: “Se é para morrer, eu vou morrer. Mas ninguém vai me expulsar mais de lugar nenhum”. Adriano calou a boca, como faz muitas vezes quando tenta organizar cientificamente a plantação dos acampamentos. “Eles sabem mais do que a gente. Fizeram isso a vida toda. Às vezes, resistem a escutar. Tenho que pegar a enxada para dar uma moral, mas não agüento mais que meia hora debaixo do sol. Eles ficam o dia todo”.
Nunca mais nos vimos, mas nos falamos de tempos em tempos. “Quais são as notícias das bandas do Norte?”. E aí ele me responde como vai o movimento, a repressão, as eleições locais. Conto daqui, dos disparates da nossa governadora e da mulher que foi serrada ao meio em Botafogo. “Tem falado com o pessoal do Fórum? Vai rolar barco ou avião fretado para Nairóbi no ano que vem?”. O trabalho nos afasta aos poucos do que era vivo naquelas estradas empoeiradas. No fundo, sabemos que Reveillon igual ao de 68, só uma vez. Viagem igual àquela, só uma também.
Cícero Adriano diz:
agora quinta-feira a polícia tocou fogo num acampamento nosso até o cachorro morreu queimado.
Carla diz:
e foram pra onde agora?
Cícero Adriano diz:
voltaram para o mesmo local.
Cicero Adriano diz:
é muita coragem q esse povo tem, pode acreditar.
...
Sentei para escrever sobre outra coisa. O MSN abriu sozinho e lá surgiu Cícero Adriano, que conheci na beira de uma estrada qualquer na Venezuela. Eu, sozinha com minhas feições de venezuelana (colombiana, equatoriana ou peruana), de um lado. Do outro, uma pessoa com jaqueta camuflada e bolsa atravessada me dizendo: “Que fome da porra! Quer di-vi-dir al-go pa-ra co-mer?”. Espaçou as sílabas para que meu espanhol entendesse seu português carregado de Vidas Secas. “Só vou beber alguma coisa, estou sem fome”, disse, numa resposta auto-explicativa sobre minha origem. Mas acabei ficando por perto, enquanto ele comia uma hallaca. Sempre confiei em desconhecidos.
Nos dois dias em que dividimos ônibus, comida, bebida, cigarros e histórias descobri que Adriano era agrônomo da Via Campesina em Alagoas. Como eu, voltava do Fórum Social Mundial de Caracas. Foi parar na Venezuela para checar em que pé estava a reforma agrária, prevista na Lei de Terras, de 2001. Falamos muitas horas sobre a terra, sobre a luta no campo. E talvez porque estivéssemos trilhando o caminho de volta, as memórias que retornam ao início foram freqüentes. Então, lembro de Adriano dizendo sobre seu pai lavrador, sobre o político de sua cidade que o mandou estudar em João Pessoa. Da vida de mordomia proporcionada pelo político: apartamento à beira-mar, faculdade federal, dinheiro, carro. “Estava deslumbrado, mas parei e lembrei de onde vim”. Largou tudo que veio fácil, largou o padrinho político. O pai não gostou. E ele arranjou outro modo de sobreviver até acabar a faculdade.
Hoje, Adriano é um híbrido de homem da terra e de doutor da capital. Me contou das ocupações com completa noção do contraste entre o seu papel (da turma do “deixa disso”) e o dos camponeses, que botam abaixo em um movimento só de foice as cercas de arame. Certa vez, ele, temeroso com as conseqüências, tentou impedir: “Fulano, não faça isso, vai ser bala depois”. O homem o agarrou e cuspiu fogo pelos olhos: “Se é para morrer, eu vou morrer. Mas ninguém vai me expulsar mais de lugar nenhum”. Adriano calou a boca, como faz muitas vezes quando tenta organizar cientificamente a plantação dos acampamentos. “Eles sabem mais do que a gente. Fizeram isso a vida toda. Às vezes, resistem a escutar. Tenho que pegar a enxada para dar uma moral, mas não agüento mais que meia hora debaixo do sol. Eles ficam o dia todo”.
Nunca mais nos vimos, mas nos falamos de tempos em tempos. “Quais são as notícias das bandas do Norte?”. E aí ele me responde como vai o movimento, a repressão, as eleições locais. Conto daqui, dos disparates da nossa governadora e da mulher que foi serrada ao meio em Botafogo. “Tem falado com o pessoal do Fórum? Vai rolar barco ou avião fretado para Nairóbi no ano que vem?”. O trabalho nos afasta aos poucos do que era vivo naquelas estradas empoeiradas. No fundo, sabemos que Reveillon igual ao de 68, só uma vez. Viagem igual àquela, só uma também.
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