07 September 2006

Rebeldes a favor ou cães de guarda?

"A feliz expressão do Jaguar - rebeldes a favor - dá conta perfeitamente do fenômeno. O estilo de fala, supostamente indignado, um certo tom radical na entonação - como quando se pede o fim da maioridade penal -, tudo para dar a impressão de que quem fala ou escreve está sintonizado com o "basta!", com o sentimento de que tanta coisa precisa mudar e que podemos contar com ele.

São tantos, entre ex-cineastas fracassados, ex-ficcionistas abortados, escritores decadentes, ex-comunistas preocupados a vida inteira em renegar seu passado, filhos de publicitários, ex-trostkistas envergonhados, todos cabendo dentro da definição do Jaguar. Ocupam espaços generosos no principal beneficiário miditático da ditadura militar, para acusar os que querem mínimas formas de contrapartida para as benesses que recebem do Estado, de manter "o velho sonho totalitário de acabar com a Rede Globo" (sic, num arroubo não sei se de prosa, de sexo, de poesia, ou de amor mesmo aos patrões na mão de quem come). Estão abrilhantando com suas bobagens supostamente cultas as páginas da revista porta-voz do bushismo no Brasil.

Nada lhes dá mais satisfação do que concordar com os patrões. Então o que melhor do que atacar a esquerda? Cuba, a Venezuela, o MST, o PT - ou o que consideram que exista de perigoso para a política econômica (que adoram) no PT. Concordando com os patrões, falando em tom indignado, como se o MST tivesse introduzido a violência no campo brasileiro e não fosse uma vítima privilegiada dela. Como se Cuba e Venezuela tivessem inventado o imperialismo e a luta de classes. Como se a esquerda fosse a responsável pelas mazelas do Brasil.

Albert Camus os chamou de "cães de guarda", zelosos protetores dos interesses das elites que lhes pagam os salários e lhes concedem prazerosamente os espaços especiais na mídia. Assim, não precisam eles mesmos, os grandes senhores que se julgam donos do Brasil, vir defender seus interesses. Dispõem de ex-escritores, ex-cineastas, ex-comunistas, para assumir esse papel, concedendo-lhes o efêmero sucesso de uns minutinhos na televisão, uns centímetros dominicais nos seus jornais. Contentam-se com pouco esses servidores dos que produziram e reproduzem o Brasil da ditadura da mídia. São seus quinze minutos de glória e se valem dela para agradecer a seus senhores.

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Cada um escolhe suas causas e assume os seus valores. Por isso somos o que somos e nos orgulhamos ou nos envergonhamos de ser o que somos".

Emir Sader

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