No dia em que conheci Gervásio, o caminhoneiro aposentado de 12 dedos, duas pessoas que não se conhecem me disseram, em contextos diferentes, a mesma frase: "A gente já nasce morrendo". Sexta-feira de acontecimentos bizarros. Pensei nisso no ponto de ônibus da Praça da Cruz Vermelha (que o Alvinho um dia definiu como "linda, pois é redonda"). Olhei o prédio do Inca, os muitos buracos do asfalto e a praça (um velhinho de mais de 80 anos foi preso uma vez ali, onde vendia cocaína. Ele era manco e carregava as drogas numa sacola). O ponto de ônibus fica abrigado debaixo de uma marquise improvisada com pedaços de madeira. Está prestes a cair há pelo menos um ano. Muitas crianças de chapéu esperam seu ônibus ali. Elas têm câncer.
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Faltam quatro dias para o fim do ano e não sinto que tenha tanto a dizer. Charles Chaplin, que morreu no Natal de 1977, fazia cinema-mudo porque as palavras pareciam "fúteis, imprecisas". Gostaria também de fazer jornalismo-mudo, dedicatórias-mudas em livros, declarações-mudas de amor, desejos-mudos de feliz ano novo.
Sem mais.
27 December 2007
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1 comment:
Carla, você escreve gostoso. É leve, mesmo se denso, e agradável, mesmo se áspero. Adorei o blog.
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