Já não posso encontrar no dicionário de sonhos da minha avó o significado de estar tatuada com desenhos discretos ou extravagantes. Se na infância eu via sempre meu pai ser atacado por gatos selvagens debaixo da chuva, hoje me vejo tatuada por um cordão de rosas e espinhos que envolve minha cintura.
Tento tirá-lo, mas não posso, porque atravessa minha pele, minhas células, minh'alma. Eu escolhi tê-lo sem escolhê-lo de verdade. Eu disse: Sim. Mas não quis dizer. Ando na noite escura buscando o significado daquela escolha, imaginando uma forma de estancar o sangue que escorre dos meus espinhos.
Na madrugada em que sonhei lavar roupas num campo de concentração, acordei com músculos doloridos e a sensação de que algo daria errado caso um Rolls-Royce preto passasse em alta velocidade. Outra vez, fui empurrada por uma avalanche de neve do pico de uma montanha até as águas quentes de uma praia, onde um francês me ofereceu um armário exclusivo para guardar meus casacos.
Sonhos são flechas que atravessam meus nódulos de dor, neurônios pirados, fantasmas e espectros, ímpetos de fuga, reservatórios de alegria... Apontando para a soma disso tudo, que eu não sei bem o que é.
15 October 2008
09 October 2008
El triste 8 de octubre
"É difícil para alguém como Che Guevara movimentar-se bem nos corredores dos ministérios como o fazia pelas veredas de Sierra Maestra. Difícil a adaptação à nova fase, difícil aceitar com tranqüilidade a passagem do "grupo em fusão", quando guerrilheiros e sociedade confundem-se em um único desejo comum - viver sem grilhões, em paz e felicidade -, para o momento da institucionalização da revolução, quando se torna mais séria - mais amarga. Guevara parte para novas aventuras. Aventuras que reuniam as viagens de aprendizado político com aquelas da "formação do espírito" do "homem novo". (...)
Como Licurgo, o Che abdica do poder e a ele prefere continuar em sua atividade de preceptor, pedagogo e legislador (...). Em plena floresta boliviana (...), sentado no chão, um fuzil-metralhadora repousando a tiracolo, um homem barbudo estranho lê o Fausto do Goethe (...) imagem que dá bem a idéia de sua complexidade e sofisticação e que unifica todos os aspectos do guerreiro-legislador no sentido de Montesquieu e Rousseau: um condottieri-legislador ou, valendo-se de Rousseau, um guerrilheiro bom e virtuoso".
(Luiz Roberto Salinas Fortes. "Che, Vinte Anos Depois").
Como Licurgo, o Che abdica do poder e a ele prefere continuar em sua atividade de preceptor, pedagogo e legislador (...). Em plena floresta boliviana (...), sentado no chão, um fuzil-metralhadora repousando a tiracolo, um homem barbudo estranho lê o Fausto do Goethe (...) imagem que dá bem a idéia de sua complexidade e sofisticação e que unifica todos os aspectos do guerreiro-legislador no sentido de Montesquieu e Rousseau: um condottieri-legislador ou, valendo-se de Rousseau, um guerrilheiro bom e virtuoso".
(Luiz Roberto Salinas Fortes. "Che, Vinte Anos Depois").
04 October 2008
01 October 2008
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