15 October 2008

Cordão de rosas e espinhos

Já não posso encontrar no dicionário de sonhos da minha avó o significado de estar tatuada com desenhos discretos ou extravagantes. Se na infância eu via sempre meu pai ser atacado por gatos selvagens debaixo da chuva, hoje me vejo tatuada por um cordão de rosas e espinhos que envolve minha cintura.

Tento tirá-lo, mas não posso, porque atravessa minha pele, minhas células, minh'alma. Eu escolhi tê-lo sem escolhê-lo de verdade. Eu disse: Sim. Mas não quis dizer. Ando na noite escura buscando o significado daquela escolha, imaginando uma forma de estancar o sangue que escorre dos meus espinhos.

Na madrugada em que sonhei lavar roupas num campo de concentração, acordei com músculos doloridos e a sensação de que algo daria errado caso um Rolls-Royce preto passasse em alta velocidade. Outra vez, fui empurrada por uma avalanche de neve do pico de uma montanha até as águas quentes de uma praia, onde um francês me ofereceu um armário exclusivo para guardar meus casacos.

Sonhos são flechas que atravessam meus nódulos de dor, neurônios pirados, fantasmas e espectros, ímpetos de fuga, reservatórios de alegria... Apontando para a soma disso tudo, que eu não sei bem o que é.

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