26 June 2009
19 June 2009
Destruir para construir
De Amedeo Modigliani:
"O homem que não é capaz de extrair continuamente de sua energia novos desejos, nem de derrubar tudo o que ficou velho e apodrecido para reafirmar-se, não é um homem, é um burguês, um boticário, um qualquer."
"O homem que não é capaz de extrair continuamente de sua energia novos desejos, nem de derrubar tudo o que ficou velho e apodrecido para reafirmar-se, não é um homem, é um burguês, um boticário, um qualquer."
12 June 2009
Acabou a luz
O silêncio já era sepulcral quando a luz acabou. Ninguém em casa. Três velas perfumadas, acesas com muito custo e risco, e a necessidade de um banho. Era para ser quente, mas foi, naturalmente, frio. As velinhas arrumadas ao lado dos frascos de xampu. No corredor do prédio, vozes imitando fantasmas. Pouca bateria no computador. Música, velas e paciência (o jogo de cartas). Cinco derrotas consecutivas. A luz volta. Caio Fernando Abreu. O telefone toca. Adélia Prado: "Minha tristeza não tem pedigree".
07 June 2009
Angústia existencial
Passaram meses e, ao contrário do poema do Leminski, mudou tudo. A vida parece ser assim: delicados fios que unem uma coisa à outra, uma pessoa à outra... Dificilmente resistem à espiral alucinante de acontecimentos. Mais uma vez, a angústia existencial, que já preencheu tantas páginas nos últimos séculos, consumiu e enlouqueceu tanta gente. Posso morrer de mordida raivosa de cachorro de rua, mas disso não morro. Recuso-me. Quero meu lugar no mundo.
(Dia 27/05)
(Dia 27/05)
Perto do selvagem coração da vida
"Que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos, porque basta-me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta me levantarei forte e bela como um cavalo novo..."
(Clarice Lispector, em algum lugar de Perto do Coração Selvagem)
A coragem é apenas falta de opção. Não heroísmo.
(DIA 23/05)
(Clarice Lispector, em algum lugar de Perto do Coração Selvagem)
A coragem é apenas falta de opção. Não heroísmo.
(DIA 23/05)
O segredo
"Eu me aproximo das pessoas como um ladrão que se aproxima de um cofre, os dedos limados, aguçados, para descobrir, tateantes, o segredo".
(Lygia Fagundes Telles)
(Lygia Fagundes Telles)
Kamikaze
Atira-se
Contra inimigo invisível
Que é apenas a sombra
De uma imagem crível
Atira-se
Contra si próprio
Que desconhece
Como a face do outro
Como seu lado oposto
Em pleno ar
Pode voar
Não sabe voar
Está só
Ponto sem nó
Atira-se.
(DIA 17/05)
Contra inimigo invisível
Que é apenas a sombra
De uma imagem crível
Atira-se
Contra si próprio
Que desconhece
Como a face do outro
Como seu lado oposto
Em pleno ar
Pode voar
Não sabe voar
Está só
Ponto sem nó
Atira-se.
(DIA 17/05)
Por imprecisão semântica
Em estados mentais tumultados, quando os pensamentos se tornam perigosos e angustiantes, o melhor é cansar o corpo. Carregar caixas. Lavar louças. Limpar paredes. Cumprir burocracias. Deve ser empregada em cada atividade banal toda sua concentração.
À vista de qualquer precipício, sempre prefiro pensar que ainda restará a opção da literatura e do esforço físico. Por pior que seja a fatalidade, ainda haverá algum motivo para viver: a beleza dos poemas ou o calor do próprio corpo em movimento.
Mas isso, certamente, é mais uma ficção que inventamos na vida. Uma ficção necessária.
Talvez a vida às vezes acabe mesmo. Morra por um tempo. Torne-se nula, vazia, oca. Depois, quem sabe, volta a nascer com um novo sopro de esperança. Talvez seja impossível viver uma vida apenas, do início ao fim.
###
Eis que uma frase assim me cai no colo nesta tarde:
"Quando se conversa, fala-se de coisas diferentes com os mesmos nomes".
Imprecisão semântica. Acredite: Faltam palavras neste mundo.
(DIA 06/05)
À vista de qualquer precipício, sempre prefiro pensar que ainda restará a opção da literatura e do esforço físico. Por pior que seja a fatalidade, ainda haverá algum motivo para viver: a beleza dos poemas ou o calor do próprio corpo em movimento.
Mas isso, certamente, é mais uma ficção que inventamos na vida. Uma ficção necessária.
Talvez a vida às vezes acabe mesmo. Morra por um tempo. Torne-se nula, vazia, oca. Depois, quem sabe, volta a nascer com um novo sopro de esperança. Talvez seja impossível viver uma vida apenas, do início ao fim.
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Eis que uma frase assim me cai no colo nesta tarde:
"Quando se conversa, fala-se de coisas diferentes com os mesmos nomes".
Imprecisão semântica. Acredite: Faltam palavras neste mundo.
(DIA 06/05)
Aos pés da catedral
O Amor Alheio, Catedral da Sé, São Paulo, 02 de maio.
"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu..."
(Caio Fernando Abreu)
Nadando afogado
- Pois nade esses duzentos metros. Não se detenha diante de nada. Comece enquanto é tempo, rompa com tudo e com todos! Quero você capaz de mijar na minha sepultura.
- Que devo fazer? - perguntou ele, impressionado.
- Não blefe. Jogue todas as cartas na mesa. Não fuja. Não tenha medo de perder. Nada mais digno do que, tudo feito, depois que não se poupa nada, saber dizer: perdi. Porque essa é a grande verdade: perdemos sempre.
- Eu não nasci para perder.
- É um bom começo saber isso: não ter medo de nada, nem de morrer. Você tem medo da morte? Então desista de uma vez, porque morrer não tem importância - Mário de Andrade morreu e está mais vivo do que eu, do que você. Estou repetindo palavras dele! Tenha medo é dos escorregões. Não escorregue, caia de uma vez. Os medíocres apenas escorregam. Os bons quebram a cabeça. Você é dos bons. Pois vá em frente! Pague seu preço e deus o ajudará.
(Fernando Sabino)
- Que devo fazer? - perguntou ele, impressionado.
- Não blefe. Jogue todas as cartas na mesa. Não fuja. Não tenha medo de perder. Nada mais digno do que, tudo feito, depois que não se poupa nada, saber dizer: perdi. Porque essa é a grande verdade: perdemos sempre.
- Eu não nasci para perder.
- É um bom começo saber isso: não ter medo de nada, nem de morrer. Você tem medo da morte? Então desista de uma vez, porque morrer não tem importância - Mário de Andrade morreu e está mais vivo do que eu, do que você. Estou repetindo palavras dele! Tenha medo é dos escorregões. Não escorregue, caia de uma vez. Os medíocres apenas escorregam. Os bons quebram a cabeça. Você é dos bons. Pois vá em frente! Pague seu preço e deus o ajudará.
(Fernando Sabino)
Miudezas provisórias
Todos os problemas do universo, repentinamente, se resumem a uma única aflição. Não sei o que será do mundo, de todos que sofrem, das estruturas e sistemas complexos. Sei apenas que eu, agora, não estou pronta para sofrer. Embora esse furtivo pensamento encerre também alguma forma de dor antecipada. Como o velho que beijou os olhos de um homem jovem em respeito às lágrimas que ainda estavam por escorrer.
Parte de mim sou eu apenas. Eu e minha solidão anônima, esculpida nos muros internos de uma fortaleza. Aquele eu estranho, que às vezes não come, que muitas vezes não dorme, mas aparenta no dia seguinte uma sorte de determinação (ou uma determinação com sorte).
E onde isso tudo pode parar?
"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim".
Parte de mim é tudo que importa sob a luz do outono nas ruas. Outra parte é assim:
"Um socialista é apenas alguém que é incapaz de superar seu assombro diante do fato de que a maioria das pessoas que viveram e morreram tiveram suas vidas de labuta deprimente, infrutífera e incessante. Detenha-se a história em qualquer ponto e é isso que encontraremos".
A vida se bifurca em dois caminhos. Você pode ser um gênio. Um artista. Um socialista. Pode se atirar no precipício da escolha correta. Como um cientista. Uma bailarina. Um revolucionário.
Ou pode viver apenas, satisfeito com aquelas miudezas provisórias, que as ondas depois apagam e pronto (deixando o mar como compensação, que não é seu, que não é de ninguém).
(DIA 28/04)
Parte de mim sou eu apenas. Eu e minha solidão anônima, esculpida nos muros internos de uma fortaleza. Aquele eu estranho, que às vezes não come, que muitas vezes não dorme, mas aparenta no dia seguinte uma sorte de determinação (ou uma determinação com sorte).
E onde isso tudo pode parar?
"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim".
Parte de mim é tudo que importa sob a luz do outono nas ruas. Outra parte é assim:
"Um socialista é apenas alguém que é incapaz de superar seu assombro diante do fato de que a maioria das pessoas que viveram e morreram tiveram suas vidas de labuta deprimente, infrutífera e incessante. Detenha-se a história em qualquer ponto e é isso que encontraremos".
A vida se bifurca em dois caminhos. Você pode ser um gênio. Um artista. Um socialista. Pode se atirar no precipício da escolha correta. Como um cientista. Uma bailarina. Um revolucionário.
Ou pode viver apenas, satisfeito com aquelas miudezas provisórias, que as ondas depois apagam e pronto (deixando o mar como compensação, que não é seu, que não é de ninguém).
(DIA 28/04)
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