07 June 2009

Miudezas provisórias

Todos os problemas do universo, repentinamente, se resumem a uma única aflição. Não sei o que será do mundo, de todos que sofrem, das estruturas e sistemas complexos. Sei apenas que eu, agora, não estou pronta para sofrer. Embora esse furtivo pensamento encerre também alguma forma de dor antecipada. Como o velho que beijou os olhos de um homem jovem em respeito às lágrimas que ainda estavam por escorrer.

Parte de mim sou eu apenas. Eu e minha solidão anônima, esculpida nos muros internos de uma fortaleza. Aquele eu estranho, que às vezes não come, que muitas vezes não dorme, mas aparenta no dia seguinte uma sorte de determinação (ou uma determinação com sorte).

E onde isso tudo pode parar?

"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim".

Parte de mim é tudo que importa sob a luz do outono nas ruas. Outra parte é assim:

"Um socialista é apenas alguém que é incapaz de superar seu assombro diante do fato de que a maioria das pessoas que viveram e morreram tiveram suas vidas de labuta deprimente, infrutífera e incessante. Detenha-se a história em qualquer ponto e é isso que encontraremos".

A vida se bifurca em dois caminhos. Você pode ser um gênio. Um artista. Um socialista. Pode se atirar no precipício da escolha correta. Como um cientista. Uma bailarina. Um revolucionário.

Ou pode viver apenas, satisfeito com aquelas miudezas provisórias, que as ondas depois apagam e pronto (deixando o mar como compensação, que não é seu, que não é de ninguém).

(DIA 28/04)

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