08 October 2009
O nome da rosa inquieta
P.S. Não sei se é questão de preferência...
14 August 2009
Douleur exquise
(...)
Sa mort ne fut pas le point culminant de ma douleur mais une bombe à retardement.
(...)
C'était la passion, la passion véritable.
(...)
En moi un vide, un blanc total, comme on dit, une voix blanche, un peur blanche.
(...)
Comme une somnambule pendant des mois, je me suis retirée du monde, j'ai souffert nuit et jour.
(...)
Je n'avais jamais été si malheureuse.
(Douleur Exquise - Sophie Calle - Exposition à Pompidou)
10 July 2009
26 June 2009
19 June 2009
Destruir para construir
"O homem que não é capaz de extrair continuamente de sua energia novos desejos, nem de derrubar tudo o que ficou velho e apodrecido para reafirmar-se, não é um homem, é um burguês, um boticário, um qualquer."
12 June 2009
Acabou a luz
07 June 2009
Angústia existencial
(Dia 27/05)
Perto do selvagem coração da vida
(Clarice Lispector, em algum lugar de Perto do Coração Selvagem)
A coragem é apenas falta de opção. Não heroísmo.
(DIA 23/05)
O segredo
(Lygia Fagundes Telles)
Kamikaze
Contra inimigo invisível
Que é apenas a sombra
De uma imagem crível
Atira-se
Contra si próprio
Que desconhece
Como a face do outro
Como seu lado oposto
Em pleno ar
Pode voar
Não sabe voar
Está só
Ponto sem nó
Atira-se.
(DIA 17/05)
Por imprecisão semântica
À vista de qualquer precipício, sempre prefiro pensar que ainda restará a opção da literatura e do esforço físico. Por pior que seja a fatalidade, ainda haverá algum motivo para viver: a beleza dos poemas ou o calor do próprio corpo em movimento.
Mas isso, certamente, é mais uma ficção que inventamos na vida. Uma ficção necessária.
Talvez a vida às vezes acabe mesmo. Morra por um tempo. Torne-se nula, vazia, oca. Depois, quem sabe, volta a nascer com um novo sopro de esperança. Talvez seja impossível viver uma vida apenas, do início ao fim.
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Eis que uma frase assim me cai no colo nesta tarde:
"Quando se conversa, fala-se de coisas diferentes com os mesmos nomes".
Imprecisão semântica. Acredite: Faltam palavras neste mundo.
(DIA 06/05)
Aos pés da catedral
O Amor Alheio, Catedral da Sé, São Paulo, 02 de maio.
"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu..."
(Caio Fernando Abreu)
Nadando afogado
- Que devo fazer? - perguntou ele, impressionado.
- Não blefe. Jogue todas as cartas na mesa. Não fuja. Não tenha medo de perder. Nada mais digno do que, tudo feito, depois que não se poupa nada, saber dizer: perdi. Porque essa é a grande verdade: perdemos sempre.
- Eu não nasci para perder.
- É um bom começo saber isso: não ter medo de nada, nem de morrer. Você tem medo da morte? Então desista de uma vez, porque morrer não tem importância - Mário de Andrade morreu e está mais vivo do que eu, do que você. Estou repetindo palavras dele! Tenha medo é dos escorregões. Não escorregue, caia de uma vez. Os medíocres apenas escorregam. Os bons quebram a cabeça. Você é dos bons. Pois vá em frente! Pague seu preço e deus o ajudará.
(Fernando Sabino)
Miudezas provisórias
Parte de mim sou eu apenas. Eu e minha solidão anônima, esculpida nos muros internos de uma fortaleza. Aquele eu estranho, que às vezes não come, que muitas vezes não dorme, mas aparenta no dia seguinte uma sorte de determinação (ou uma determinação com sorte).
E onde isso tudo pode parar?
"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim".
Parte de mim é tudo que importa sob a luz do outono nas ruas. Outra parte é assim:
"Um socialista é apenas alguém que é incapaz de superar seu assombro diante do fato de que a maioria das pessoas que viveram e morreram tiveram suas vidas de labuta deprimente, infrutífera e incessante. Detenha-se a história em qualquer ponto e é isso que encontraremos".
A vida se bifurca em dois caminhos. Você pode ser um gênio. Um artista. Um socialista. Pode se atirar no precipício da escolha correta. Como um cientista. Uma bailarina. Um revolucionário.
Ou pode viver apenas, satisfeito com aquelas miudezas provisórias, que as ondas depois apagam e pronto (deixando o mar como compensação, que não é seu, que não é de ninguém).
(DIA 28/04)
01 April 2009
Ausência
26 March 2009
Sentimentos de amor
"chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega"
(Chacal)
15 March 2009
15 February 2009
O discreto charme da burguesia (II)
"O que os fazia representantes [políticos] da burguesia é que seu pensamento não podia superar os limites que o próprio pensamento burguês não supera em sua vida e que, por consequência, são teoricamente impelidos para os mesmos problemas e para as mesmas soluções às quais os burgueses na prática são conduzidos por seu interesse material e sua situação social".
Michel Löwy, a outro propósito, que aqui coube.
P.S. Título e foto furtados de "Conversas com o teto". =]
01 February 2009
Sobre a miséria alheia
Há algum tempo sinto a necessidade de sistematizar minhas impressões sobre nosso olhar acerca da miséria alheia. Geralmente, causa-me desconforto quando a classe média, às vezes munida com boas intenções, aponta, comenta ou “reflete” sobre os mendigos debaixo da marquise, sobre as velhas pedintes na porta da igreja, sobre os pequenos malabaristas do sinal de trânsito.
Nosso comentarista de cada dia sente que não pode passar por aquilo sem oferecer sua humilde opinião; sem “alertar” os outros; sem mostrar que ele mesmo, ao contrário do que aparenta na sua rotina do escritório ou da faculdade, está carregado de sentimentos de nobreza e solidariedade. Algumas vezes, os comentários seguem a linha do “lirismo” e da “poesia”; outras, da “análise sociológica e política”. Mas a classe média passa; o mendigo, a velha e o malabarista continuam.
Nesses casos específicos do cotidiano, o silêncio retumbante me parece mais honesto que os floreios verbais dos que apenas... passam. Essa “pequena denúncia”, poética ou sociológica, me irrita especialmente por servir como substituto a um verdadeiro comprometimento com a transformação social e a justiça.
Com grande freqüência, sou consumida pela enorme vergonha que me causa a miséria alheia, sobretudo por minha incapacidade de enfrentá-la. Mais nova, acreditava poder resolvê-la com meu próprio voluntarismo: bastava abdicar dos meus privilégios de classe e encampar os discursos de igualdade, que o problema estaria no caminho da solução. Isso, obviamente, se revelou uma grande mentira. Mesmo que abrisse mão de perfume e champagne, a parte fundamental dos meus privilégios de classe permaneceria intocada: décadas de educação em escolas particulares, cursos de língua, universidade federal – entre outros fatores que garantiriam, ad infinitum, meu lugar destacado na pirâmide social, muito acima do exército de miseráveis Brasil afora.
Mesmo que conseguisse cumprir metas pretensiosas de privação material, tal fato não garantiria automaticamente outro destino para o mendigo, a velha e o malabarista. Eles continuariam nas mesmas posições em que estão hoje. Ao mesmo tempo, não se trata de naturalizar uma vida de privilégios – é hipócrita negá-los, mas ainda pior não criticá-los nem colocá-los (os irreversíveis) a serviço de valores justos.
Nosso desafio é pertencer a uma classe que funciona como porrete esmagando a maioria da população (não podemos adulterar nossa realidade individual para nos livrarmos da carga de culpa) e, ao mesmo tempo, saber fazer a grande crítica da sociedade – tentando viver com coerência, embora nem sempre conseguindo, e nos preparando para desempenhar algum papel numa possível ruptura, que talvez nunca cheguemos a ver.
(Depois continua).