Alimento a sensação de que serei, muito em breve, amiga de bons escritores. E não porque, subitamente, ficarei íntima de Saramago e García Márquez, e muito menos dos finados. Mas confio no talento dos amigos, por mais "matemáticos ou físicos" que sejam.
Até aqueles que não costumam escrever uma linha, com costume, me oferecem os melhores contos que uma leitora pode desejar. "Da cozinha, apareceu uma cabecinha à espreita na porta, que, timidamente, perguntou: Prosa ou poesia?". Este é o final de uma das histórias que mais gosto de lembrar, embora sobre ela não tenha sido escrito nada, nem filmado nada ainda.
Pés, olhos e a alma (Diogo Buarque Fransozi)
Prólogo:
Os pés são a porta da alma. Na labuta fatigante dos meses de colheita, os pés descalços calejam na terra quente de sol. Os olhos refletem os calos e a insensibilidade dos que arejaram e queimaram nas fazendas. Um menino que cresceu de botinha ortopédica reflete nos olhos a insegurança e a dor de pisar em pedrinhas. Pés descalços no morro, correndo de bala, correndo com raiva, matando por pouco. Pequenos pés femininos. Pés apertados de bailarinas sentem todo esforço no pé. O homem carrega e anda o mundo com os pés.
Capítulo Único:
Quando desci o Pukuruni descalço e retornei a Cuzco de chinelo pelas pedras que margeiam os trilhos do trem por trinta quilômetros, coloquei a culpa no azar e machuquei meus pés. Os mensageiros Incas, com seus chinelos de palha e couro, corriam de Macchu Picchu a Cuzco, uma distância pelo menos quatro vezes maior, em quatro horas, provavelmente sem machucar os pés. Portanto, não tenho pés de guerreiro. Lembro de andar em carpete e em pedra, de usar tênis, poucas vezes sapatos, bastante chinelo, como qualquer cidadão carioca. Um dia antes de ir para Paris, eu olhei meu tênis e vi que estava velho, que tinha um buraco no lugar onde fica o mindinho. Todos os meus amigos aqui tinham comprado algum calçado, porque é barato. No dia de ir para Paris, passei numa loja, vi uma chuteira em promoção e comprei. Dei meu tênis velho para um mendigo na rua e fui pra Paris. Logo de início, indo da garagem do trem para o albergue, percebi a merda que eu tinha feito. O tênis novo estava esmigalhando meu pé. E não era um tênis novo qualquer, era uma chuteira. Arrastava no calcanhar e amassava o mindinho na frente. Andei até o outro dia, até não suportar mais minha unha entrar no outro dedo, alguns bandaids no calcanhar e uma bolinha de sangue pisado no mindinho. Uma bailarina pode dançar horas com aquela sapatilha apertada, gira, da plié, cambalhota e manobras diversas com aquele sapato triturando seu pé. Mas também tampouco tenho pés de bailarino. Na noite do dia seguinte pedi arrego e, agonizando de dor, vi o oásis: uma loja no meio de restaurantes que vendia apenas calçados às oito/nove da noite. Tudo mais fechado. Comprei o mais barato, um sapato de pano confortável que agradava a meus pés. Senti alívio. Dois minutos depois, a chuva. Meus pés se ensoparam e eu senti bastante frio. Alguns momentos preferi andar descalço, quando parava de chover. Mas meu pé não é planta para ninguém regar, nem pinico pra mijar, nao é pano de chão para secar água derramada, nem esponja.
Epílogo:
Os olhos são o espelho da alma. Os meus refletem o esquecimento e descaso, além de um humor bizarro. E olham sorrindo do último andar de uma torre gigante meus próprios pés láááá embaixo, quase inalcançáveis, sendo devorados por cupins.
31 August 2006
28 August 2006
Colheita em outras hortas
Olhando em volta, percebo que meu quarto piora de aspecto à medida que escrevo. Como também não tenho gosto por monólogos, dou vez a outros (enquanto tento colocar ordem neste caos).
1. Diogo Fransozi: Começamos por ele, porque é meu amigo, me inspirou a criar este blog e foi o único que comentou em todos os textos abaixo. Na verdade, não entendo muito sobre o que ele faz ou pensa na maior parte do tempo. Costumava perguntar: "E aí, Diogo, o que tem feito lá no seu trabalho?". A resposta era sempre metafísica e incluía aceleradores de partículas,
materiais elásticos e quebra espontânea de simetria. Desisti de fazer média. Prefiro quando ele fala sobre filosofia, eis um dos comentários que fez:
"Aristóteles dizia que nossos amigos eram os nossos iguais, onde identificávamos nós mesmos. Nietzsche dizia que o seu melhor amigo é o seu inimigo. Exatamente..."
* Quem quiser ler sobre física, filosofia ou coisas difíceis: Esboços (link ao lado)
...
2. Johnattan Safran Foer: Não posso dizer que o conheço, mas quero registrar que assisti a sua mesa-redonda na Flip e, no dia seguinte, ainda o vi passeando pela pracinha. Não li "Tudo se ilumina", mas vontade não falta desde que assisti a "Uma vida iluminada", filme inspirado no romance. É lindo, lírico, esperto, engraçado. A prosa detalhista não entedia pela prisão ao real, mas cria um ambiente fantástico, quase fabular. Sem contar que Foer é a pessoa mais normal entre os mortais.
"Há essa noção de que a expressão ou o expressionismo é uma coisa ruim, e uma pessoa esperta é alguém que mantém o controle. Ser cool é considerado uma coisa boa. Me lembro quando eu era estudante, Allen Ginsberg veio para uma leitura onde disse que a pior coisa que você pode ser é cool. E muitos disseram que ele era o mais cool, os beatniks foram os primeiros escritores associados ao termo, de alguma maneira. E ele disse que eles nunca quiseram ser isto, mas emocionais, expressionistas, muito mais perto daquela vida escondida, subentendedida, não-revelada. O livro deve ser um machado a quebrar a fina camada de gelo de um lago, que o separa de você mesmo."
3. Joaquim Ferreira dos Santos: Seu melhor texto é "O homem dodói", uma lição de casa para todo macho que se preza. Para a geração que não conheceu Antônio Maria, as crônicas do Joaquim têm algum vigor. E, sem dúvida, uma observação cuidadosa das tendências.
"O novo cafa:
Não promete mais uma rodada de sexo, drogas e rock and roll porque estão todas cansadas dessa dieta. Essas moças já tiveram a coleção completa de orgasmos anunciados pela revista "Nova", já recriaram pelo avesso todas as posições que a Madonna desenhou nos clipes. Esgotaram a cabala, cancelaram a assinatura do Sexy Hot e foram para a Flip aplaudir Adélia Prado". (28/ 06/2006)
1. Diogo Fransozi: Começamos por ele, porque é meu amigo, me inspirou a criar este blog e foi o único que comentou em todos os textos abaixo. Na verdade, não entendo muito sobre o que ele faz ou pensa na maior parte do tempo. Costumava perguntar: "E aí, Diogo, o que tem feito lá no seu trabalho?". A resposta era sempre metafísica e incluía aceleradores de partículas,
materiais elásticos e quebra espontânea de simetria. Desisti de fazer média. Prefiro quando ele fala sobre filosofia, eis um dos comentários que fez:
"Aristóteles dizia que nossos amigos eram os nossos iguais, onde identificávamos nós mesmos. Nietzsche dizia que o seu melhor amigo é o seu inimigo. Exatamente..."
* Quem quiser ler sobre física, filosofia ou coisas difíceis: Esboços (link ao lado)
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2. Johnattan Safran Foer: Não posso dizer que o conheço, mas quero registrar que assisti a sua mesa-redonda na Flip e, no dia seguinte, ainda o vi passeando pela pracinha. Não li "Tudo se ilumina", mas vontade não falta desde que assisti a "Uma vida iluminada", filme inspirado no romance. É lindo, lírico, esperto, engraçado. A prosa detalhista não entedia pela prisão ao real, mas cria um ambiente fantástico, quase fabular. Sem contar que Foer é a pessoa mais normal entre os mortais.
"Há essa noção de que a expressão ou o expressionismo é uma coisa ruim, e uma pessoa esperta é alguém que mantém o controle. Ser cool é considerado uma coisa boa. Me lembro quando eu era estudante, Allen Ginsberg veio para uma leitura onde disse que a pior coisa que você pode ser é cool. E muitos disseram que ele era o mais cool, os beatniks foram os primeiros escritores associados ao termo, de alguma maneira. E ele disse que eles nunca quiseram ser isto, mas emocionais, expressionistas, muito mais perto daquela vida escondida, subentendedida, não-revelada. O livro deve ser um machado a quebrar a fina camada de gelo de um lago, que o separa de você mesmo."
3. Joaquim Ferreira dos Santos: Seu melhor texto é "O homem dodói", uma lição de casa para todo macho que se preza. Para a geração que não conheceu Antônio Maria, as crônicas do Joaquim têm algum vigor. E, sem dúvida, uma observação cuidadosa das tendências.
"O novo cafa:
Não promete mais uma rodada de sexo, drogas e rock and roll porque estão todas cansadas dessa dieta. Essas moças já tiveram a coleção completa de orgasmos anunciados pela revista "Nova", já recriaram pelo avesso todas as posições que a Madonna desenhou nos clipes. Esgotaram a cabala, cancelaram a assinatura do Sexy Hot e foram para a Flip aplaudir Adélia Prado". (28/ 06/2006)
26 August 2006
Manifesto Surrealista
"Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação"
Manifesto Surrealista, 1924, André Breton. Sugiro ler o texto completo.
Manifesto Surrealista, 1924, André Breton. Sugiro ler o texto completo.
Roteiro de um diálogo premeditado
Dia ou noite. Ambiente aberto ou fechado. Dois conhecidos se encontram.
- Oi, tudo bem? Estava aqui pensando que... Você conhece o grande Fulano de Tal?
- Ãhn? Hum... É, vagamente ouvi falar sobre... (Droga, acordei intencionada a não responder perguntas de vestibular)
- Mas ao menos sabe que nasceu em um vilarejo da Borgonha, onde a família se recusava a produzir queijos e a beber vinho, e por isso ficou marcado desde cedo por um preconceito social que influiu em toda a sua vasta e imprescindível obra?
- Ã-hã, alguém me falou sobre... (Putaqueopariu, o que eu fiz para merecer?)
O sabe-tudo estufa o peito igual galo de briga e não perde espaço na rinha:
- Bem - continua ele - o grande Fulano de Tal foi decisivo na criação de um conceito de ... (cagação de regra sem fim) . E disse a célebre frase: "Dois mais dois são quatro!". Não é incrível? Ou seria incrível o fato de você não saber disso?
- Que ótimo, querido! Sensacional! (Bateria palmas se não fossem os maus hábitos)
***
"Você sabe quem é o grande Fulano de Tal?" é uma versão mais sutil do velho "Você sabe quem eu sou?". Resposta implícita: "Eu sou aquele que conhece o grande Fulano de Tal. Diferente de você, verme".
- Oi, tudo bem? Estava aqui pensando que... Você conhece o grande Fulano de Tal?
- Ãhn? Hum... É, vagamente ouvi falar sobre... (Droga, acordei intencionada a não responder perguntas de vestibular)
- Mas ao menos sabe que nasceu em um vilarejo da Borgonha, onde a família se recusava a produzir queijos e a beber vinho, e por isso ficou marcado desde cedo por um preconceito social que influiu em toda a sua vasta e imprescindível obra?
- Ã-hã, alguém me falou sobre... (Putaqueopariu, o que eu fiz para merecer?)
O sabe-tudo estufa o peito igual galo de briga e não perde espaço na rinha:
- Bem - continua ele - o grande Fulano de Tal foi decisivo na criação de um conceito de ... (cagação de regra sem fim) . E disse a célebre frase: "Dois mais dois são quatro!". Não é incrível? Ou seria incrível o fato de você não saber disso?
- Que ótimo, querido! Sensacional! (Bateria palmas se não fossem os maus hábitos)
***
"Você sabe quem é o grande Fulano de Tal?" é uma versão mais sutil do velho "Você sabe quem eu sou?". Resposta implícita: "Eu sou aquele que conhece o grande Fulano de Tal. Diferente de você, verme".
Teatros (I)
Não havia cortina no teatro improvisado em que atores pouco sérios se ofereciam em atuações circenses. Tampouco as luzes se apagaram no fim. Sozinha em uma cadeira lateral, que escolheu sem pensar ao chegar atrasada, ela se levantou e apenas sorriu. Com lentidão, deu alguns passos, trocou palavras preguiçosas com algumas pessoas e se dispôs a esperar num banco do jardim o início da noite. Enquanto observava, alheia, o vai-e-vem de atores, remexia a pequena bolsa à busca de um cigarro. Mas não fumava. Procurava qualquer coisa que desse sentido àquela cena.
Levantou e saiu à francesa, sem dizer adeus e sem prestar esclarecimentos. Educada demais para isso, adiou pela vida toda o momento em que mandaria às favas a necessidade de ser presente. Arrancou a bateria do celular e deixou que apodrecesse em um canto qualquer. A donzela estava salva. Desceu as cortinas e apagou as luzes.
Meus seis meses de resistência
“Levantem as mãos os que pertencem ao Country Club!”, gritou Frascisco Árias Cárdenas, major destacado a conter os tumultos na capital venezuelana em pleno Caracazo, no tumultuado fevereiro de 1989. Soldados rasos, jovens e despreparados, descarregavam suas armas contra a população indignada, que tomara espontaneamente as ruas de Caracas, sem liderança e sem controle, para protestar contra o acordo recém-firmado pelo então presidente Carlos Andrés Pérez com o Fundo Monetário Internacional. A medida representava uma série de políticas impopulares planejadas para compensar as crises cíclicas do petróleo e tinha como efeito colateral a degradação, ainda mais acentuada, das condições de vida da maior parte da população. Ao ouvirem a frase do major, desconcertados, os militares cessaram fogo, com o embaraçado de quem não sabe quem é ou o que faz. Na ausência de representantes do Country Club, a Venezuela deu início à busca por si mesma.
(Segue)
...
No meu penúltimo dia em Caracas, despejei na cama do hotel barato um acúmulo de papéis amassados com frases soltas, telefones e endereços, perguntas e mais perguntas, falas de desconhecidos, palavras de ordem e de muros. Trechos do que formaria minha obra final sobre a minha breve história dentro de uma História maior. Voltando ao Brasil, o que era quase palpável às mãos e crível ao olhar inequívoco sobre uma realidade consumada perdeu-se. Não para mim, nunca. Mas perdeu-se nos rostos impávidos, na descrença padrão que encontrei. Numa apatia que eu mesma estava há um longo mês sem presenciar. Então fui me recolhendo, resguardando meus pedacinhos de memória dos outros e, em algum momento, até de mim mesma. Precisava preservá-los da facilidade em deixá-los para trás, em me desvencilhar de tantas palpitações.
Nesta madrugada, remexendo textos arquivados, encontrei duas páginas derramadas no calor caraquenho. O primeiro parágrafo está acima. Um ano antes de desembarcar de ônibus na periferia de Caracas, já lia tudo o que se publicava sobre o assunto. Lia, confusa. Depois, lia e suspeitava. Não sei bem em que momento tomei o tema como meu. Mas lembro da cena descrita neste primeiro parágrafo, foi o início de tudo, pensei na hora. Muito antes de Chávez. E há um pensamento do Apolonio de Carvalho que ilustra esta minha convicção:
"A minha namorada [Renée] insiste muito que eu sou um otimista barato, mas acho que é preciso olhar com otimismo - sem receio de parecer demasiado otimista - como os níveis de consciência popular se revelam através de manifestações próprias, através do apoio e do estímulo às reações positivas dentro e fora do Parlamento", afirmou Apolonio, que morreu em setembro do ano passado, aos 93 anos. (Renée foi sua mulher desde a Resistência Francesa, em que lutou, durante a Segunda Guerra Mundial).
O que muitos não entendem, e eu mesma cansei de explicar, é que Hugo Chávez tornou-se um alvo fácil de bater, mas não é ele o olho do furacão. Há uma conjuntura iniciada anos antes de seu surgimento. Talvez uma única pessoa tenha entendido a minha euforia na volta, pois esteve na Nicarágua após a Revolução Sandinista, década de 80. A descrição se assemelha (guardadas as proporções sobre o efeito de uma guerra) ao que vi: "Havia montanhas de lixo pela cidade e uma miséria sem igual. Mas todos estavam mobilizados, em um clima de renascimento e de solidariedade". A "revolução" assumiu uma conotação piegas, brega, chata. Ou então revolve um passado de derramamento de sangue por "causas nobres". Não. Revolução é o estado de espírito da população. E foi o que vi para crer.
(Segue)
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No meu penúltimo dia em Caracas, despejei na cama do hotel barato um acúmulo de papéis amassados com frases soltas, telefones e endereços, perguntas e mais perguntas, falas de desconhecidos, palavras de ordem e de muros. Trechos do que formaria minha obra final sobre a minha breve história dentro de uma História maior. Voltando ao Brasil, o que era quase palpável às mãos e crível ao olhar inequívoco sobre uma realidade consumada perdeu-se. Não para mim, nunca. Mas perdeu-se nos rostos impávidos, na descrença padrão que encontrei. Numa apatia que eu mesma estava há um longo mês sem presenciar. Então fui me recolhendo, resguardando meus pedacinhos de memória dos outros e, em algum momento, até de mim mesma. Precisava preservá-los da facilidade em deixá-los para trás, em me desvencilhar de tantas palpitações.
Nesta madrugada, remexendo textos arquivados, encontrei duas páginas derramadas no calor caraquenho. O primeiro parágrafo está acima. Um ano antes de desembarcar de ônibus na periferia de Caracas, já lia tudo o que se publicava sobre o assunto. Lia, confusa. Depois, lia e suspeitava. Não sei bem em que momento tomei o tema como meu. Mas lembro da cena descrita neste primeiro parágrafo, foi o início de tudo, pensei na hora. Muito antes de Chávez. E há um pensamento do Apolonio de Carvalho que ilustra esta minha convicção:
"A minha namorada [Renée] insiste muito que eu sou um otimista barato, mas acho que é preciso olhar com otimismo - sem receio de parecer demasiado otimista - como os níveis de consciência popular se revelam através de manifestações próprias, através do apoio e do estímulo às reações positivas dentro e fora do Parlamento", afirmou Apolonio, que morreu em setembro do ano passado, aos 93 anos. (Renée foi sua mulher desde a Resistência Francesa, em que lutou, durante a Segunda Guerra Mundial).
O que muitos não entendem, e eu mesma cansei de explicar, é que Hugo Chávez tornou-se um alvo fácil de bater, mas não é ele o olho do furacão. Há uma conjuntura iniciada anos antes de seu surgimento. Talvez uma única pessoa tenha entendido a minha euforia na volta, pois esteve na Nicarágua após a Revolução Sandinista, década de 80. A descrição se assemelha (guardadas as proporções sobre o efeito de uma guerra) ao que vi: "Havia montanhas de lixo pela cidade e uma miséria sem igual. Mas todos estavam mobilizados, em um clima de renascimento e de solidariedade". A "revolução" assumiu uma conotação piegas, brega, chata. Ou então revolve um passado de derramamento de sangue por "causas nobres". Não. Revolução é o estado de espírito da população. E foi o que vi para crer.
Delírios em uma viagem de ônibus
Vivo para evitar o medo que a vida traz. A sensação cretina que nos aflige sempre que tudo pode dar errado. Ou certo. O ar engasgando a garganta e o nó no peito acelerado. A possibilidade de perder o passado para ganhar o futuro. Toda a sorte de sentimentos e recordações que nos invade no momento decisivo.Acelero e ultrapasso o ritmo dos acontecimentos. Antecipo decisões para não retirá-las da jogada. Eu não seria o pulo do penhasco, mas a corrida desatinada que o precede, quando não há mais cores ou sons, só a certeza do que não pode mais ser desfeito. Sou o que não volta atrás nem pára, pois há muito perdi os freios e a ré. Vivo no silêncio dos segundos que separam o que foi e o que será. Sou a efemeridade do nada. Pois então vivo sem economizar pulos ou quedas. Vivo para ser um corpo no ar, impotente em relação a si mesmo. Sou puro movimento interno.
(Rio, 10 de maio de 2006)
(Rio, 10 de maio de 2006)
Somos os mesmos
A surpresa maior que nos espera é descobrir, através da relação com o outro, como também não nos conhecemos. Pessoas banais reafirmam tudo o que já sabemos que somos. Fortalecemos convicções no contato com quem não nos acrescenta. Se cogitarmos a opção de que todo mundo acrescenta alguma coisa para alguém, podemos mudar esta tese para a de que somos a mesma pessoa de sempre quando estamos na companhia de alguém por quem não valha a pena ser diferente. E depois de um tempo, muitos casais se separam ou se entendiam não porque o “outro” continua o mesmo (as mesmas idéias, as mesmas manias, os mesmos sonhos), mas porque nós também não mudamos tanto quanto gostaríamos. De repente, percebemos que os dilemas e os medos são quase os mesmos; que somos capazes das mesmas reações diante de determinados fatos e que, sobretudo, nos adaptamos a uma nova realidade, porém não conseguimos mudar por ela. Somos os mesmos e esta constatação nos mata.
(Rio, 02 de julho de 2005)
(Rio, 02 de julho de 2005)
25 August 2006
Todo menino é um rei (Parte II)
Século passado tudo era mais simples. Uma boa mulher para casar, boa dona-de-casa, fértil para dar filhos, que por sua vez carregarão meu sobrenome. Essa mulher surgiria na festa de minha formatura, casaríamos na igreja dos pais dela e passaríamos a lua-de-mel em Poços de Caldas. Arranjaria um bom emprego para sustentar a nova família. Compraria uma casa num bom bairro de classe-média, um carro espaçoso para acomodar as crianças e as bagagens para quando saíssemos de férias, as inovações modernas de bens de consumo e juntaria ainda um bocadinho para construir aquela pocilga na Região dos Lagos para os feriados e tempos de festa. Sem histórias de amor, princesas francesas, duelos mortais, reviravoltas dramáticas. Essas coisas não existem mesmo.
Uma vez acreditei que sim. Eu tinha quase a idade que eu tenho. Era meu arqui-inimigo, maléfico, pegava a princesa que eu amava com papos sobre Marx (os irmãos, não Karl), Fellini (as coisas chatas, não as sacanagens), galanteios do século 19 e aquela cara de cara de comercial de pasta de dente. Ah, droga, mas não duelamos, conversamos. Foi patético.
A princesa não correu para os meus braços, chorou daquilo tudo. Não a conquistei numa festa de máscaras no castelo, foi em Jacarepaguá. Não fomos para o castelo, o salário não pagava nem uma quitinete. Não vivemos felizes para sempre, a princesa me chutou meses depois. Aí eu entendi.
Entendi que não existem príncipes maníaco-depressivos, um pouquinho individualistas, um tanto arrogantes, crianças que se mostram auto-suficientes, que torram seus salários em cerveja e se divertem com sarcasmo, rock e... cerveja. Ok. A partir de agora deixarei tele-mensagens, irei passear no shopping no Dia dos Namorados e depois vou esperar pacientemente uma hora dentro do carro na fila de um motel barato. Vou também nas festas da família, farei “festinha” no cachorro, ligarei para perguntar como é que foi o dia. Farei cara de puto para os seus amigos, direi te amo 20 vezes todo dia e darei o antebraço como apoio.
Bah. Mas nada como correr atrás do airbus da Gol gritando: “Me perdoa, fiz merda, volta, eu te amo”. Ou fazer uma serenata tocando o solo de Moby-Dick embaixo da janela dela, que ouviria tudo com as mãos entrelaçadas suportando o rosto. Talvez chamá-la para todo dia tomar Guiness? Discutir coisas do tipo: Amor, não concordo com trabalho, mas quem é que vai pagar as contas? Ou outros problemas que podem surgir do tipo “aluguei um filme romântico” e aparecer com a fita do Alladin. Convencer de... por trás. (Por que não?) Não entendo...
Ah. Mas só quero uma mulher fértil. Farei um exército de mim´s, doutrinarei cultura pop, marcharei sobre Londres, cercando a cidade com arame farpado. Não... Lá dentro tem que estar minha princesa. Ela não precisa ser bonita, mas também não precisa ser feia, pode ser normalzinha. Pode ser daquelas que ficam no canto observando tudo com o maior cinismo ou aquelas que todo mundo junta em volta de tão agradável que é. Só precisa ser autêntica. Pode falar coisas do tipo: “dô toda hora bucetada no poste”, mas que também diga coisas inteligentes e bonitinhas. Não importa se bebe ou fuma, desde que se depile. Que não seja tão presente, mas que também não seja ausente. Que tenha defeitos, mas não muitos e que (preferencialmente) eu goste deles.
Pode até rir de mim, me criticar, sacanear o meu nariz, mas tem que saber o limite para não baixar muito a minha auto-estima. Veja coisas que eu vejo, escute coisas que eu ouço, leia o que eu leio. Não precisa gostar. Que ao menos conheça. Que me permita ter e conceder certas liberdades (mas tenha certeza que a gente é pra sempre. Sempre enquanto dure, o que é indeterminável). E que só diga que ama poucas vezes. Mas naquelas que sente que deve e preserva a pureza disso.
*O autor do texto está exposto nestas linhas e não no nome e sobrenome abaixo delas. O título é homenagem minha a ele.
Uma vez acreditei que sim. Eu tinha quase a idade que eu tenho. Era meu arqui-inimigo, maléfico, pegava a princesa que eu amava com papos sobre Marx (os irmãos, não Karl), Fellini (as coisas chatas, não as sacanagens), galanteios do século 19 e aquela cara de cara de comercial de pasta de dente. Ah, droga, mas não duelamos, conversamos. Foi patético.
A princesa não correu para os meus braços, chorou daquilo tudo. Não a conquistei numa festa de máscaras no castelo, foi em Jacarepaguá. Não fomos para o castelo, o salário não pagava nem uma quitinete. Não vivemos felizes para sempre, a princesa me chutou meses depois. Aí eu entendi.
Entendi que não existem príncipes maníaco-depressivos, um pouquinho individualistas, um tanto arrogantes, crianças que se mostram auto-suficientes, que torram seus salários em cerveja e se divertem com sarcasmo, rock e... cerveja. Ok. A partir de agora deixarei tele-mensagens, irei passear no shopping no Dia dos Namorados e depois vou esperar pacientemente uma hora dentro do carro na fila de um motel barato. Vou também nas festas da família, farei “festinha” no cachorro, ligarei para perguntar como é que foi o dia. Farei cara de puto para os seus amigos, direi te amo 20 vezes todo dia e darei o antebraço como apoio.
Bah. Mas nada como correr atrás do airbus da Gol gritando: “Me perdoa, fiz merda, volta, eu te amo”. Ou fazer uma serenata tocando o solo de Moby-Dick embaixo da janela dela, que ouviria tudo com as mãos entrelaçadas suportando o rosto. Talvez chamá-la para todo dia tomar Guiness? Discutir coisas do tipo: Amor, não concordo com trabalho, mas quem é que vai pagar as contas? Ou outros problemas que podem surgir do tipo “aluguei um filme romântico” e aparecer com a fita do Alladin. Convencer de... por trás. (Por que não?) Não entendo...
Ah. Mas só quero uma mulher fértil. Farei um exército de mim´s, doutrinarei cultura pop, marcharei sobre Londres, cercando a cidade com arame farpado. Não... Lá dentro tem que estar minha princesa. Ela não precisa ser bonita, mas também não precisa ser feia, pode ser normalzinha. Pode ser daquelas que ficam no canto observando tudo com o maior cinismo ou aquelas que todo mundo junta em volta de tão agradável que é. Só precisa ser autêntica. Pode falar coisas do tipo: “dô toda hora bucetada no poste”, mas que também diga coisas inteligentes e bonitinhas. Não importa se bebe ou fuma, desde que se depile. Que não seja tão presente, mas que também não seja ausente. Que tenha defeitos, mas não muitos e que (preferencialmente) eu goste deles.
Pode até rir de mim, me criticar, sacanear o meu nariz, mas tem que saber o limite para não baixar muito a minha auto-estima. Veja coisas que eu vejo, escute coisas que eu ouço, leia o que eu leio. Não precisa gostar. Que ao menos conheça. Que me permita ter e conceder certas liberdades (mas tenha certeza que a gente é pra sempre. Sempre enquanto dure, o que é indeterminável). E que só diga que ama poucas vezes. Mas naquelas que sente que deve e preserva a pureza disso.
*O autor do texto está exposto nestas linhas e não no nome e sobrenome abaixo delas. O título é homenagem minha a ele.
Toda menina é princesa (Parte I)
Ele me faz rir na fila do restaurante e não cria caso quando o garçom troca os pedidos. Não acha que os filmes do Bertolucci sejam só sacanagem nem freqüenta lojinhas de museus. Ele jamais usaria um moletom do MoMa, mas sabe de cabeça alguns versos de Poema Sujo. Acorda de bom humor e dorme cansado, pois usou toda a energia enquanto pôde. Lê para entender o mundo, não para demonstrar conhecimento. Não julga as pessoas, por mais estranhas que elas possam ser, e sabe tratá-las de igual para igual, como um velho amigo de desconhecidos. Gosta de ir ao Maracanã torcer pelo time do coração e sente que tudo vai dar certo. Ele sempre acha isso. Está aberto a viver sem fronteiras, desde que possa envelhecer olhando a Lagoa. Entende minhas limitações sobre música e, por isso, me indica bons CDs. Não me pede muitas explicações, porque sabe que quando compro água de coco engarrafada é por uma esperança persistente de que será boa como na praia. E sem ter convivido comigo antes, descobriu sozinho o que me fez assim, do jeito que sou. Pode descrever qualquer amigo meu com detalhes, mesmo sem tê-lo conhecido pessoalmente. De quando em quando, precisa estar onde quase ninguém vai – uma cachoeira, um rio, uma praia, uma pedra -, ainda que para isso tenha que andar em silêncio durante horas. Acha até que andar de ônibus parece um filme em flashes: fragmentos de pessoas e histórias que observamos ao acaso. É um cara que descomplica qualquer coisa: uma viagem depende de uma mochila; um dia de outro; um sonho de início. E é aqui que começamos.
21 August 2006
Lixão virtual
Meus melhores textos talvez estejam hoje no lixão virtual (será que, mesmo na internet, algo simplesmente evapora com um clique?). Mas são mortos autênticos, pois boa parte foi escrita no calor do momento, na sufocante agonia de dividir um problema ou na incontrolável necessidade de ser infame. Olhei meu "sent items" e colhi algumas manifestações. Na maioria, triviais como um e-mail enviado no meio da tarde.
Assunto: O fotógrafo de gravatinha borboleta da Lapa (11/08)
http://oglobo.globo.com/online/blogs/juarez/post.asp?cod_post=10462
Sensacional... Em menos de cinco dias, Deborah e eu encontramos com nosso amigo da gravatinha duas vezes. Na próxima, teremos que dar uma força para o "último fotógrafo de botequim do Rio".
Assunto: Proust (19/08)
Os seres que têm a possibilidade de viver para si mesmos - é verdade que estes seres são os artistas e fazia muito que eu estava convencido de que jamais o seria - têm também o dever de viver para si mesmos, e a amizade é uma dispensa esse dever, uma abdicação pessoal.
Marcel Proust
Assunto: Res: Boletim Informativo nº 2 (14/ 07)
Adorei este e-mail: a história da sua tia que mata patos; do museu do cineasta desconhecido; das aldeias. Você sabe como minha imaginação é, pude imaginar cada uma das cenas (em especial, a da tia de 80 anos que ataca patos no quintal). Acho que, nesta altura, você já conseguiu se afastar da nossa vida louca do Rio de Janeiro e entrou no passo das pessoas de um lugar mais calmo. Para mim, isso está entre o que há de mais importante nas viagens: descobrir que é possível viver (mesmo que temporariamente) uma outra vida, em outro ritmo. E, assim, poder notar o que às vezes é invisível e simplesmente notar. Andar devagar, sem rumo, sem a agonia de ter de se desvencilhar dos "obstáculos" em forma de gente que nos aparecem pela frente. Pessoas não deveriam ser obstáculos, mas estamos tão envolvidos com a nossa guerra pessoal, que é este o papel que delegamos a quem está passando pela rua. Fico feliz pela sua conexão com Portugal, por essa sua paixão em contar este cotidiano. Nunca tinha pensado em ir à terrinha (implicância histórica seguida de preconceito). E sei que, ao fim da sua jornada, vou me sentir mais próxima do que nunca de onde veio nosso passado. E graças a você. Já sinto sua falta, mas jamais será a ponto de te dizer para voltar ou de lamentar a sua ida. Posso morrer de saudade, porém ela não será maior do que minha alegria por te ver realizar este sonho.
Assunto: Para quem gosta de Nabokov (31/07)
Nabokov aprendeu com as borboletas? (Do NoMínimo)
Não é segredo para ninguém que o grande Vladimir Nabokov (veja nota abaixo sobre “Lolita”) foi um estudioso de borboletas tão sério que chegou a batizar uma nova espécie e sugerir que preferia a lepidopterologia à literatura. Mas ninguém tinha levado tão longe a relação entre as duas maiores paixões do escritor russo (o xadrez vinha em terceiro lugar) quanto o biólogo e nabokovólogo Dmitry Sokolenko.
Sokolenko organizou em São Petersburgo, cidade natal do autor de “Ada”, a exposição “O código Nabokov”. Trata-se de uma série de grandes painéis com imagens superampliadas da anatomia das borboletas ao lado de fragmentos da obra do escritor – leia a reportagem do “New York Times”, em inglês, mediante cadastro gratuito.
O efeito talvez não seja dos mais feios, mas as ambições de Sokolenko vão além do decorativo. Ele espera provar que o Nabokov escritor deve muito ao Nabokov cientista: “Acho que sua atenção meticulosa aos detalhes (como escritor) só pode ter vindo de sua profissão, daquilo que ele estava fazendo na entomologia”.
Assunto: Tá na hora de matar a fome, pessoarrr (04/07)
Vámonos?
Assunto: Comuna é destaque entre os brasileiros mais geniais (25/6)
Estou bem curiosa para saber o que você fez com a edição de hoje da Revista!
Assunto: RES: RES: RES: RES: RES: RES: RES: RES: Alguém nervoso, Carla neurótica
Vem de torpe, esquisito, bizarro, nebuloso.
A verdade é que sempre gostei de você da mesma forma, mas meu corpo reagiu de maneira errada. Queria jamais ter confundido as coisas. Hoje seríamos grandes amigos sem tantas confusões passadas entre os dois. Você integraria facilmente o seleto grupo dos meus incondicionais. E não haveria sinapses, mal entendidos, entrelinhas. E talvez você se tornasse menos temperamental assim.
Assunto: RES: Plágio (15/08)
(Em resposta a: “Por mais incrível que pareça, já existe um livro sobre a Dieta de Jesus:
http://www.amazon.com/gp/product/0785273190/ref=pd_rvi_gw_1/002-3121427-0583235?%5Fencoding=UTF8&v=glance&n=283155
In What Would Jesus Eat? The Ultimate Program for Eating Well, Feeling Great, and Living Longer, Don Colbert, M.D. makes a compelling case for Christians to use the blueprint of this appetizing spin on traditional faith-based diet books to develop a healthier lifestyle using foods available today.”)
No domingo pela manhã cogitamos que este livro já existisse. No nosso camping, um cidadão que portava uma cruz gigante tentou fazer contato com a gente. Debatemos se ele seria um seguidor do já lançado best-seller A Dieta de Jesus. Descobrimos no jornal que aquele era um dos muitos artistas do off off off.
P.S. "Living Longer" não seria muito apropriado no caso de Jesus, apesar de sua dieta.
Assunto: Eu poderia estar matando (11/08)
Eu poderia estar matando, eu poderia estar roubando, eu poderia estar acumulando 20 toneladas de lixo na minha casa... Mas só estou pedindo sua barraca de camping emprestada por meio deste humilde e-mail !!!!!
Assunto: Frase do Dia (11/08)
"O que não me contam, eu escuto atrás das portas. O que não sei, adivinho e, com sorte, você adivinha sempre o que, cedo ou tarde, acaba acontecendo”
Dalton Trevisan
Assunto: Café? (26/07)
(Sem texto)
Assunto: O fotógrafo de gravatinha borboleta da Lapa (11/08)
http://oglobo.globo.com/online/blogs/juarez/post.asp?cod_post=10462
Sensacional... Em menos de cinco dias, Deborah e eu encontramos com nosso amigo da gravatinha duas vezes. Na próxima, teremos que dar uma força para o "último fotógrafo de botequim do Rio".
Assunto: Proust (19/08)
Os seres que têm a possibilidade de viver para si mesmos - é verdade que estes seres são os artistas e fazia muito que eu estava convencido de que jamais o seria - têm também o dever de viver para si mesmos, e a amizade é uma dispensa esse dever, uma abdicação pessoal.
Marcel Proust
Assunto: Res: Boletim Informativo nº 2 (14/ 07)
Adorei este e-mail: a história da sua tia que mata patos; do museu do cineasta desconhecido; das aldeias. Você sabe como minha imaginação é, pude imaginar cada uma das cenas (em especial, a da tia de 80 anos que ataca patos no quintal). Acho que, nesta altura, você já conseguiu se afastar da nossa vida louca do Rio de Janeiro e entrou no passo das pessoas de um lugar mais calmo. Para mim, isso está entre o que há de mais importante nas viagens: descobrir que é possível viver (mesmo que temporariamente) uma outra vida, em outro ritmo. E, assim, poder notar o que às vezes é invisível e simplesmente notar. Andar devagar, sem rumo, sem a agonia de ter de se desvencilhar dos "obstáculos" em forma de gente que nos aparecem pela frente. Pessoas não deveriam ser obstáculos, mas estamos tão envolvidos com a nossa guerra pessoal, que é este o papel que delegamos a quem está passando pela rua. Fico feliz pela sua conexão com Portugal, por essa sua paixão em contar este cotidiano. Nunca tinha pensado em ir à terrinha (implicância histórica seguida de preconceito). E sei que, ao fim da sua jornada, vou me sentir mais próxima do que nunca de onde veio nosso passado. E graças a você. Já sinto sua falta, mas jamais será a ponto de te dizer para voltar ou de lamentar a sua ida. Posso morrer de saudade, porém ela não será maior do que minha alegria por te ver realizar este sonho.
Assunto: Para quem gosta de Nabokov (31/07)
Nabokov aprendeu com as borboletas? (Do NoMínimo)
Não é segredo para ninguém que o grande Vladimir Nabokov (veja nota abaixo sobre “Lolita”) foi um estudioso de borboletas tão sério que chegou a batizar uma nova espécie e sugerir que preferia a lepidopterologia à literatura. Mas ninguém tinha levado tão longe a relação entre as duas maiores paixões do escritor russo (o xadrez vinha em terceiro lugar) quanto o biólogo e nabokovólogo Dmitry Sokolenko.
Sokolenko organizou em São Petersburgo, cidade natal do autor de “Ada”, a exposição “O código Nabokov”. Trata-se de uma série de grandes painéis com imagens superampliadas da anatomia das borboletas ao lado de fragmentos da obra do escritor – leia a reportagem do “New York Times”, em inglês, mediante cadastro gratuito.
O efeito talvez não seja dos mais feios, mas as ambições de Sokolenko vão além do decorativo. Ele espera provar que o Nabokov escritor deve muito ao Nabokov cientista: “Acho que sua atenção meticulosa aos detalhes (como escritor) só pode ter vindo de sua profissão, daquilo que ele estava fazendo na entomologia”.
Assunto: Tá na hora de matar a fome, pessoarrr (04/07)
Vámonos?
Assunto: Comuna é destaque entre os brasileiros mais geniais (25/6)
Estou bem curiosa para saber o que você fez com a edição de hoje da Revista!
Assunto: RES: RES: RES: RES: RES: RES: RES: RES: Alguém nervoso, Carla neurótica
Vem de torpe, esquisito, bizarro, nebuloso.
A verdade é que sempre gostei de você da mesma forma, mas meu corpo reagiu de maneira errada. Queria jamais ter confundido as coisas. Hoje seríamos grandes amigos sem tantas confusões passadas entre os dois. Você integraria facilmente o seleto grupo dos meus incondicionais. E não haveria sinapses, mal entendidos, entrelinhas. E talvez você se tornasse menos temperamental assim.
Assunto: RES: Plágio (15/08)
(Em resposta a: “Por mais incrível que pareça, já existe um livro sobre a Dieta de Jesus:
http://www.amazon.com/gp/product/0785273190/ref=pd_rvi_gw_1/002-3121427-0583235?%5Fencoding=UTF8&v=glance&n=283155
In What Would Jesus Eat? The Ultimate Program for Eating Well, Feeling Great, and Living Longer, Don Colbert, M.D. makes a compelling case for Christians to use the blueprint of this appetizing spin on traditional faith-based diet books to develop a healthier lifestyle using foods available today.”)
No domingo pela manhã cogitamos que este livro já existisse. No nosso camping, um cidadão que portava uma cruz gigante tentou fazer contato com a gente. Debatemos se ele seria um seguidor do já lançado best-seller A Dieta de Jesus. Descobrimos no jornal que aquele era um dos muitos artistas do off off off.
P.S. "Living Longer" não seria muito apropriado no caso de Jesus, apesar de sua dieta.
Assunto: Eu poderia estar matando (11/08)
Eu poderia estar matando, eu poderia estar roubando, eu poderia estar acumulando 20 toneladas de lixo na minha casa... Mas só estou pedindo sua barraca de camping emprestada por meio deste humilde e-mail !!!!!
Assunto: Frase do Dia (11/08)
"O que não me contam, eu escuto atrás das portas. O que não sei, adivinho e, com sorte, você adivinha sempre o que, cedo ou tarde, acaba acontecendo”
Dalton Trevisan
Assunto: Café? (26/07)
(Sem texto)
Sobre blogs e nado sincronizado
"Foi a forma que nos enganaram. Queríamos publicar livros , mas disseram que éramos incompetentes e nos deixaram os blogs para não chorarmos"
(Sérgio Duran, que também acha que os espetáculos de dança da Deborah Colker são como nado sincronizado sem água)
(Sérgio Duran, que também acha que os espetáculos de dança da Deborah Colker são como nado sincronizado sem água)
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