25 August 2006

Toda menina é princesa (Parte I)

Ele me faz rir na fila do restaurante e não cria caso quando o garçom troca os pedidos. Não acha que os filmes do Bertolucci sejam só sacanagem nem freqüenta lojinhas de museus. Ele jamais usaria um moletom do MoMa, mas sabe de cabeça alguns versos de Poema Sujo. Acorda de bom humor e dorme cansado, pois usou toda a energia enquanto pôde. Lê para entender o mundo, não para demonstrar conhecimento. Não julga as pessoas, por mais estranhas que elas possam ser, e sabe tratá-las de igual para igual, como um velho amigo de desconhecidos. Gosta de ir ao Maracanã torcer pelo time do coração e sente que tudo vai dar certo. Ele sempre acha isso. Está aberto a viver sem fronteiras, desde que possa envelhecer olhando a Lagoa. Entende minhas limitações sobre música e, por isso, me indica bons CDs. Não me pede muitas explicações, porque sabe que quando compro água de coco engarrafada é por uma esperança persistente de que será boa como na praia. E sem ter convivido comigo antes, descobriu sozinho o que me fez assim, do jeito que sou. Pode descrever qualquer amigo meu com detalhes, mesmo sem tê-lo conhecido pessoalmente. De quando em quando, precisa estar onde quase ninguém vai – uma cachoeira, um rio, uma praia, uma pedra -, ainda que para isso tenha que andar em silêncio durante horas. Acha até que andar de ônibus parece um filme em flashes: fragmentos de pessoas e histórias que observamos ao acaso. É um cara que descomplica qualquer coisa: uma viagem depende de uma mochila; um dia de outro; um sonho de início. E é aqui que começamos.

1 comment:

Diogo B.F. said...

SOU EU!!!! Uhuuuuu!!!