26 August 2006

Teatros (I)


Não havia cortina no teatro improvisado em que atores pouco sérios se ofereciam em atuações circenses. Tampouco as luzes se apagaram no fim. Sozinha em uma cadeira lateral, que escolheu sem pensar ao chegar atrasada, ela se levantou e apenas sorriu. Com lentidão, deu alguns passos, trocou palavras preguiçosas com algumas pessoas e se dispôs a esperar num banco do jardim o início da noite. Enquanto observava, alheia, o vai-e-vem de atores, remexia a pequena bolsa à busca de um cigarro. Mas não fumava. Procurava qualquer coisa que desse sentido àquela cena.

Levantou e saiu à francesa, sem dizer adeus e sem prestar esclarecimentos. Educada demais para isso, adiou pela vida toda o momento em que mandaria às favas a necessidade de ser presente. Arrancou a bateria do celular e deixou que apodrecesse em um canto qualquer. A donzela estava salva. Desceu as cortinas e apagou as luzes.

1 comment:

Diogo B.F. said...

essa eu tive que ler duas vezes... diretamente tocante a mim.